sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A água e a galinha

Boff, Leonardo. A água e a galinha. Editora Vozes; São Paulo / SP; 2003; 208 páginas.

Dados da obra:

O livro apresenta uma metáfora da condição humana através da história de uma águia que, tendo sido capturada por um camponês, era criada junto às galinhas. Com o passar dos anos ela vai se acostumando a essa condição e passa a acreditar que era uma galinha de verdade, até o dia que aparece um naturalista e a faz enxergar quem ela realmente era.

Breve relato do autor:

Leonardo Boff, pseudônimo de Genézio Darci Boff é um teólogo brasileiro, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil. Foi membro da Ordem dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos.

Passagens:

“Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.”

“A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências têm, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente que cada leitor é coautor. Porque cada um lê e relê com os olhos que têm. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.”

“Dentre todos os animais não havia nenhum que pudesse ser para Adão um interlocutor adequado. Então Deus criou Eva a partir do lado de Adão. Comumente se fala de forma errônea que Deus criou Eva da costela de Adão. Em hebraico se usa a palavra zela que significa propriamente lado e não costela. É uma metáfora para significar que Eva foi tirada não da cabeça de Adão, para ser sua senhora. Nem dos pés, para ser sua escrava. Mas do seu lado, do lado do coração, para ser sua companheira. Ela sim é e poderá ser a interlocutora de Adão, conforme ele mesmo exclama ao vê-la diante de si: ‘eis o osso dos meus ossos, a carne da minha carne...’ por isso o homem-varão deixará o pai e a mãe e se unirá à sua mulher; serão uma só carne (Gênesis, 2, 23-24).”

“– ... Os olhos são tudo para uma águia. Seu olhar penetrante vê oito vezes mais que o olho humano. A retina é em parte monocular, orientada para coisas de perto, e em parte binocular, dirigida para as coisas de longe. Vê e controla tudo porque consegue girar a cabeça em 180º. Discerne o focinho de um coelho que espia da toca ou uma gazela no meio dos arbustos a mais de 1.600 metros de distância. Então arremete como uma flecha.”

“Ai de nós, se nos contentarmos em ser somente galinhas, se permitirmos que nos reduzam a simples galinhas: encerrados em nosso pequeno mundo, de interesses feitos e de parcos desejos, com um horizonte que não vai além de cerca mais próxima. Não disse o poeta Fernando Pessoa: ‘eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho de minha altura’.”

“O que efetivamente conta não são as coisas que nos acontecem. Mas, sobretudo, a nossa reação frente a elas. Nessa reação irrompe a força irradiadora dos arquétipos...”

“No processo de resgate e de realização de sua identidade, a águia viveu todas as estações desta jornada. Realizou plenamente o arquétipo herói/heroína: do aguente, do caminhante, do lutador, do mártir, do sábio e do mago. No termo do caminho encontrou o céu, o lar e a pátria da identidade.”

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