sexta-feira, 10 de maio de 2013

Padre Antonio Vieira

Pais, Amélia Pinto. Padre Antônio Vieira – o imperador da Língua Portuguesa. Companhia das Letras. São Paulo /SP; 2010; 95 páginas.
 
Breve relato do autor:
 
Amélia Pais Pinto foi professora de francês e português durante 36 anos. Escreveu ensaios sobre Camões, Fernando Pessoa e Gil Vicente e também uma história da literatura em Portugal.
 
Dados da obra:
 
Na primeira parte do livro, é o próprio Vieira quem narra os principais acontecimentos de sua vida em uma espécie de autobiografia póstuma. Na segunda, são apresentados trechos de alguns de seus mais conhecidos sermões - entre eles o Sermão de Santo Antônio aos Peixes e o Sermão da Sexagésima -, além de citações extraídas de sua obra e excertos de sua correspondência. O volume inclui ainda dois anexos: um texto explica a estrutura de um sermão e outro contextualiza a ação da Inquisição.
 
Passagens:
 
[...]
Todos os sentidos do homem têm um só ofício, só os olhos têm dois.
O ouvido ouve, o gosto gosta, o olfato cheira, o tato apalpa, só os olhos têm dois ofícios: ver e chorar. [...]
 
Arranca o estatutário uma pedra destas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem: primeiro, membro a membro e, depois, feição por feição, até a mais miúda. Ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos. Aqui desprega, ali arruga, acolá recama. E fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar.
 
Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas como os pregradores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, da outra há de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, das outras há de dizer subiu. Basta que não havemos de ver um sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o sue contrário? Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras. Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo baixo; as estrelas são muito distintas em muito claras e altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem e tão alto que tenham muito que entender os que sabem.
 
Ver e não remediar é não ver.
 
O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive; e, não tendo ação, move os ânimos e causa grandes efeitos.

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